Aquele do Carvalho Sem uma moeda para o barqueiro, Aquele que ansioso me aguarda nos portos sombrios do Tártaro em sua balsa desde o momento em que eu me abraçava em agonia antes mesmo de meus pais cruzarem olhares, sou Aquele...
Como um grão de poeira estelar em meio a reinos, monarquias, quilombos, repúblicas, sociedades desconhecidas, em meio a oceanos silenciosos, Todo sobre os ombros atléticos de Atlas, sou Aquele...
Eu sou aquele “fogo frio” dos antigos babilônios, há muito apagado e esquecido.
Um livro de medicina escrito sob o auxílio de Esculápio, queimado com a Universidade de Alexandria.
O iludido chamando um homem de Deus. E o pagão vendo em seu altar as imagens de seus deuses uma a uma desaparecendo – a fé exilada.
Como uma estrela solitária longe das constelações do cosmo, sou Aquele.
Como um cego de pensamentos a tatear em vão, tentando capturar o firmamento ilusório, sou Aquele. Como Mestre na arte de pensar, tateio em vão o firmamento estrelado, pois sou Aquele.
Eu sou o vinho derramado em libação ao santo que jamais fez milagre.
O sangue do cordeiro derramado em sacrifício a um deus que jamais existiu.
Uns gritos de angústia retraídos na garganta, nada são – sou Aquele.
Impulso que leva o homem a apanhar uma corda e ir falar com Deus – sou Aquele.
Regozijo de alma desesperada quando diante do riso puro e doce no rosto de uma criança – sou Aquele.
O piloto nazista de um avião sabotado pela Resistência na Grande Guerra.
E a Esperança que voa pra longe do triste. Sou Aquele.
O mais desonrado dos centuriões romanos; o mais cético dos sacerdotes gregos.
Ator e expectador de mim no palco em mim, eu Sou Aquele.
Traçando um Reino linear onde me seja possível encorajar-me, sou Aquele.
Nascido em Casa de Carvalho.
Súdito e Rei dos Bosques antigos, Moradores dos Carvalhos...
...eu sou Aquele do Carvalho.
Eu sou Aquele – menino com olhos tristes de homem.
Aquele – homem com corpo escasso de menino. A. do Carvalho
