terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Retorno... (aos destroços de minha carne)

Carrego esta estada, este tesouro nas mãos com delicadeza que não é minha, não é própria, o medo me conduz feito os pólos que atraem a ponta das bússolas todas, e o chão que conduz a queda das maçãs, da areia na ampulheta, um medo de se fazer que se faça devagar todas as coisas que se faz nos limites de uma vida, um medo de entronizar aquele que o carrega, se lhe fazendo rezas: “devagar”, “atenção” me mantendo atento a evitar o possível susto, o provável espanto, a irremediável inquebrantável dor; caminho, corro, vôo, trajeto-me, faço-me luz ao ponto de mostrar-me somente em sombras, mas o que é meu é em mim, trago nos bolsos, nos orifícios todos, na epiderme, na cor dos ossos, no refluir do sangue o aviso prévio – quando todo salvo-conduto se rasga – de que inexoravelmente haverá susto, espanto & dor, e, irremediável, inexorável e incompreensivelmente o inquebrantável quebrará meu tesouro, a minha estada, então é quando dor afoga o peito, transpassa à lança a garganta, quando a cautela ainda sobrevive no pó, o pulso desafiando as leis físicas cai pra cima, de encontro à navalha que sem preâmbulos o lamberá; quando todo vômito acompanhado de seus urros guturais fazem o trajeto contrário garganta adentro enchendo núcleos e os estourando em milhões de estrelinhas podres, reduzindo-me ao universo só meu, de onde saí sem que saída houvesse e para onde retorno sem que frestas encontre, aos totais destroços da minha carne.


A. do Carvalho...
...em 29 de novembro de 2011

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