quinta-feira, 23 de junho de 2011

Isso é inércia...


E depois de um tempo desconfio dessa minha descrença e dou até um movimento no meu corpo tão parado, vê se um princípio de Arquimedes (talvez, as informações se embaralham apertadas na minha cabeça) traz alguma coisa à tona, uma coisa qualquer dentro de um movimento em direção de uma mudança, uma mudança que acontece tão devagar, tão pausadamente que quando a nota, a nota como um visitante súbito, sem preâmbulos porque ’stá tudo parado parece, e eu penso uma coisa tão pequena que só posso pensar se tratar de uma preguiça, uma preguiça de quem já pensou muito, já leu muito e já viu muito a ponto de totalmente caído num “acostumamento” não mais nota o pensamento que pensa, nem o que foi isso que leu ou viu, embora tenha lido e visto agora, mas há uma consciência, há uma consciência nisso, percebe?, essa consciência de que algo passou e te tocou e quando se percebe que foi tocado já é tarde pra compreender o toque, será, em nome dos deuses, que já tem demais (que nem é demais assim) na minha cabeça a ponto de ela estar cheia como está cheio o mundo que se me mostra sem que nada mais nele caiba de novo e de belo?, mas vê, não me esquece, eu vi uma consciência, é a percepção de algo que se moveu, que respirou, entende?, quanto um grão de areia largado a bilhões de anos-luz de qualquer civilidade pode influir no Universo Infinito?, deixa eu dizer que escutei como um eco só, como um ladino duende mágico que encobre a sua aparição com uma sensação de ter sido visto, só fantasia da minha cabeça onde nada mais cabe senão o que não tem corpo, uma fantasia como dizes, ínfimo, um movimento de escambo no meio da vasta floresta, uma pedra bonita que um índio leva, um pau-brasil só, uma tora só tirada da vasta, vasta Mata, só um e tendo sido um só, me deixa compor que se arranque outro depois, deixa eu mexer o meu corpo mais uma vez, então posso até andar para trás e me imaginar – depois de pegar que algo se mexeu em minhas matas – dentro do primeiro deslumbre português; uma folha jamais deslumbrada que balança dentro da Amazônia; eu vou balançar o meu corpo todo e sei que não vai ter depois de um tempo muito de perceptível ou imaginável, mas quero crer, por D... por essas coisas todas que envolvem e que dão só-dão sentido à palavra Deus – assim com um dê maiúsculo mesmo – que há uma engrenagem, mesmo que essa crença seja só um subterfúgio pra algo que a gente quer e sabe que não tem, que não tá acontecendo, mesmo que eu saiba que quando chegar em casa Galatéia ainda será um inútil aglomerado de marfim, vou imaginar, então vou só imaginar essas pequenas coisas, esses infinitos pequenos imperceptíveis movimentos que nos colocam dentro do Súbito, duma sensação de finitude, feito o buraco nas nossas matas com o qual nos deparamos ou o contrário, mais certo seria dizer: o mato no buraco, igual uma morte, coisa tão explosivamente grande feita de nada ao fim de um caminho de nadas constantes.
A. do Carvalho...

...em 23 de junho de 2011

1 comentários:

Bia Cunha disse...

Parabéns, Poeta!

Dri, que mexidas fantásticas. Movimente-se sempre que a alma se manifestar, o efeito é isto que puseste aqui, suas linhas dentro de mim, proporcionando reflexões, buscas em si e nas coisas e até mesmo permitindo que nos mexamos também para o que está fora de nós.
Amo te ler.
Impressiono-me quando inseres elementos ímpares de percepção para um ser que se diz oco. Oco? Morto?
Há vida nesse ser.
É mais que rochedo, um robusto arvoredo... indago eu. Um carvalho milenar!
Gosto de seus pensamentos densos e bem profundos.
AH!
Adorei quando falas da mata, da vasta Mata...
A ideia do simples balancear de uma folha, o menor dos movimentos que expressem vida. Vida!

Parabéns Poeta, como sempre aguçando minha imaginação e me permitindo plure significados e sempre deixando brechas para algumas entrelinhas que vem do meu sentir.

Abraço

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