Feito aquele segredo das orelhas de Midas, o que ninguém sabe, que ninguém sonda, o impronunciável, aquela vergonha, quisera eu pronunciado uma vez só fosse o teu, ante um buraco na terra – tanto melhor –, eu o esperaria como no fantástico caso, teu segredo da terra brotaria feito o do rei da Frígia e quando atingisse o tamanho de uma criança pequena como uma criança pequena sairia a pronunciar-se aos quatro cantos e eu no meu escasso canto receberia teu segredo nos meus e tal como me foi contado eu os transcreveria e tentaria por um tempo apanhar o “que se quer dizer” das tuas palavras como quem tenta apanhar a parte de um rio que ainda carrega o nome que o deram quando esse já não mais o é, quando esse já é mar, mas por pouco tempo eu tentaria, e logo então – porque tem andado fraco o meu pensar e fraca a minha disposição para desvelar qualquer mistério – traduzi-los-ia em minhas próprias verdades e nelas, tu me amarias.
A. do Carvalho...
...em 11 de maio de 2011